O volume de vendas do comércio varejista subiu 1,4% em maio, na comparação com abril. Trata-se da segunda alta consecutiva do setor. O resultado foi divulgado nesta quarta-feira (07/07) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Com o desempenho, o varejo está em nível 3,9% superior ao do pré-pandemia. O patamar de atividade é medido pelo chamado índice de base fixa, que alcançou a marca de 101,5 em maio -estava em 97,7 em fevereiro do ano passado.
Em relação a maio de 2020, as vendas subiram 16%. No quinto mês do ano passado, o setor sentia os impactos da fase inicial da crise sanitária, que provocou fechamento de lojas.
Os resultados vieram em patamar inferior ao projetado pelo mercado. Analistas consultados pela agência Bloomberg estimavam avanço de 2,3% no volume de vendas ante abril, além de crescimento de 17,5% frente a igual período anterior.
Com o desempenho em maio, as vendas do comércio acumularam elevação de 5,4% em 12 meses. No acumulado deste ano, o setor registra alta de 6,8%.
Nesta quarta-feira, o IBGE também confirmou forte revisão no resultado de abril do varejo. Assim, a alta em relação a março passou de 1,8%, dado divulgado no mês passado, para 4,9%.
De acordo com o instituto, o ajuste decorreu da aplicação de algoritmo de dessazonalização, que, na prática, busca calibrar os efeitos sazonais no comércio.
Segundo Cristiano Santos, gerente da pesquisa do IBGE, a crise sanitária trouxe maior volatilidade para os números, o que exige revisões constantes. Logo, a alteração de abril foi motivada por "uma questão estatística", disse o analista.
"Com a pandemia, há um novo cenário no comércio, com diferenças marcantes. O carnaval, por exemplo, não ocorreu neste ano. Com isso, há ajustes recorrentes que são feitos, baseados nas informações que chegaram por último, que foram inseridas naquele mês", afirma Santos.
O economista Fabio Bentes, da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), também entende que a revisão está relacionada apenas a uma questão estatística, e não a eventuais erros de cálculo, por exemplo.
"A revisão fica evidente quando há fortes oscilações nos números, ou seja, quando é registrada uma alta ou uma queda de mais de 1%. Esse efeito de revisão já ocorreu em outras ocasiões", diz Bentes. "O ajuste é o preço que se paga para permitir a comparação de um mês com o anterior", completa.
Em março, a divulgação inicial do IBGE havia apontado recuo de 0,6% nas vendas do comércio. Após revisão, o número passou para queda de 3%.
"É um efeito estatístico. A questão do ajuste sazonal considera um período de normalidade. O problema é que não estamos passando por um período de normalidade. Isso pode gerar distorções", salienta Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos. "Quando um feriado é antecipado, por exemplo, aquilo que marcava a sazonalidade muda. Se a sazonalidade é alterada, reverbera nos outros meses", acrescenta.
Após o impacto inicial da crise sanitária, as vendas ensaiaram retomada ao longo do segundo semestre de 2020. Contudo, o avanço da Covid-19 na largada de 2021 e a redução de estímulos à economia geraram perda de fôlego.
Conforme Santos, o avanço de 1,4% nas vendas em maio, frente a abril, pode ser associado a uma combinação de fatores. Um deles é a própria base de comparação fragilizada pela piora da pandemia no começo do ano.
Outro fator mencionado pelo gerente da pesquisa foi uma espécie de adaptação das lojas ao contexto de restrições na crise sanitária. "Há alguns fenômenos que explicam os dois meses de alta", definiu Santos.
Em maio, houve pagamentos do auxílio emergencial. O benefício, que havia sido retomado em abril, é considerado uma forma de estímulo ao consumo.
Segundo o IBGE, o aumento de 1,4% no comércio, em maio, foi acompanhado de taxas positivas em sete das oito atividades pesquisadas. O maior avanço nas vendas ocorreu dentro do segmento de tecidos, vestuário e calçados: 16,8%. Em seguida, vieram combustíveis e lubrificantes (6,9%) e outros artigos de uso pessoal e doméstico (6,7%).
A única atividade com redução no volume de negócios foi a de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (-1,4%).
Neste momento, desemprego, inflação e juros em processo de alta desafiam o varejo. É que, juntas, as variáveis tendem a reduzir o poder de compra dos consumidores.
No trimestre encerrado em abril, dado mais recente disponível, a taxa de desemprego permaneceu no nível recorde de 14,7% no país. Havia 14,8 milhões de trabalhadores desocupados à época.
Já o controle da inflação é ameaçado pela pressão de itens como combustíveis e energia elétrica. A conta de luz ficou mais cara devido à crise hídrica, que encarece os custos de geração de energia.
Ao mesmo tempo, os preços mais altos forçam aumento na taxa básica de juros, a Selic, que subiu em junho para 4,25% ao ano.
"O resultado do comércio em maio veio abaixo das projeções. Pode ser um indício de que alguns fatores já estão afetando o ritmo de expansão das vendas. Destaco dois: a inflação em alta e a expectativa de que o juro continue subindo até o final do ano", aponta Bentes.
"Aparentemente, o resultado de maio frustrou expectativas. No entanto, quando olhamos a série histórica, é preciso considerar a forte revisão na base de comparação", ressalta Sanchez.
Especialistas consideram fundamental o avanço da vacinação contra o coronavírus. A imunização é vista como mecanismo para reduzir restrições a atividades econômicas e elevar a confiança de consumidores.
"Há um cenário melhor com a vacinação para o segundo semestre. Quanto maior for a parcela da população imunizada, menor será a possibilidade de impactos negativos", pontua Bentes.
O IBGE ainda divulgou nesta quarta-feira que as vendas do varejo ampliado subiram 3,8% na passagem de abril para maio. Esse setor inclui veículos, motos e material de construção. O avanço foi o segundo consecutivo.
Na semana passada, o IBGE divulgou o resultado de maio da produção industrial. No quinto mês deste ano, as fábricas registraram aumento de 1,4%, após três recuos em sequência. O desempenho do setor de serviços em maio será conhecido na próxima semana.
"Mesmo que os números de casos e mortes da Covid ainda sejam altos, esperamos outro crescimento das vendas no varejo em junho e a partir de agora poderemos ver uma atividade econômica mais sólida, dada a retirada gradual de medidas restritivas para conter a propagação do vírus", afirma em nota o MUFG (Mitsubishi UFJ Financial Group).
Para a instituição, há "expectativa de recuperação mais sólida da atividade econômica a partir do segundo semestre deste ano, pressupondo um estágio mais avançado de vacinação".
A CNC projeta alta de 4,5% no volume de vendas do varejo em 2021.
Fonte 180 Graus