Sistemas do INSS ficaram mais de 2 meses fora do ar; Dataprev diz que falhas são naturais
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Publicado em 11/03/2025 por Administrador

As constantes panes nos sistemas do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), que agora enfrenta uma fila de quase dois milhões de pedidos de benefícios, têm causado transtornos aos segurados e é motivo de desgastes para a Dataprev, empresa do governo federal responsável pelas soluções tecnológicas.

 

Dados do próprio INSS, fornecidos via LAI (Lei de Acesso à Informação), mostram que, de agosto de 2023 a dezembro de 2024, os diversos sistemas usados pelo órgão para a realização de tarefas ficaram 1.466 horas fora do ar —o equivalente a mais de dois meses de interrupção nos serviços.

 

O presidente da Dataprev, Rodrigo Assumpção, diz à Folha de S.Paulo que as falhas são "naturais" e não impedem o trabalho do INSS, que, segundo ele, tem cumprido suas metas diárias. Os servidores têm uma visão distinta e, reservadamente, atribuem parte do problema da fila crescente às intermitências nos sistemas da Previdência.

 

Para Assumpção, a soma linear das horas não é uma métrica apropriada para medir o desempenho da empresa, que, segundo o executivo, opera de acordo com a taxa de funcionamento de 98% prevista no contrato com o órgão.

 

"Se a gente tortura os números, eles confessam qualquer coisa. Nós estamos falando de mais de 400 sistemas diferentes, com níveis de criticidade distintos e com tempos de falha, incidência e abrangência distintos", afirma.

O presidente da Dataprev reconhece que os problemas existem, mas, ao mesmo tempo, trata a situação com naturalidade. A falha, diz ele, é da "natureza do processo tecnológico".

 

"Falhas existem. A Previdência está passando por um processo muito intenso de renovação dos seus sistemas, e a orquestração disso tudo é bastante complexa. Em alguns momentos, essas falhas podem ser extremamente doloridas para as equipes do INSS, para a população em geral. Não há nenhum desconhecimento ou desconsideração pela dor que isso causa", diz.

 

"A gente até faz e escreve que lamenta qualquer consequência, mas não é isso que as pessoas querem ouvir. Não é isso que realmente consola ou atende. Por outro lado, nós estamos aqui trabalhando para rapidamente corrigir o problema. E quando [o sistema] volta, a gente acha que cumpriu a nossa obrigação", acrescenta.

 

Segundo ele, os "números frios" apontam, na verdade, um desempenho positivo da empresa. Apesar disso, o próprio presidente dá exemplos que mostram a continuidade dos gargalos ainda em 2025. Segundo ele, no início de fevereiro, o esgotamento da capacidade de registro operacional de um sistema —uma espécie de diário de quem acessa os dados, informação crucial para questões de segurança— provocou lentidão em outras ferramentas usadas diariamente por servidores do INSS.

 

"Até a gente achar qual era o problema, demorou um dia e meio. E o sistema não parou, ele só ficou mais lento", afirma.
Na visão de Assumpção, as oscilações são o preço cobrado pela modernização dos sistemas.

 

"A gente pode evoluir muito pouco, e ter um pouco mais de estabilidade e envelhecer mais rapidamente, ou evoluir mais rápido, envelhecer mais lentamente, dando conta de rejuvenescer sistemas, produtos e ser muito mais inovador e responsivo às mudanças e às demandas. Esse processo incremental, que implica em oscilações, eu acho que é a filosofia correta", diz. "Mas um dos preços a se pagar são esses momentos. Cada novo sistema estressa a situação e leva a alguns períodos de instabilidade".

 

O presidente da Dataprev reconhece que, embora a empresa seja a responsável pelos sistemas, é o INSS e a Previdência que ficam na vitrine perante a população quando há um problema.

 

No ano passado, por exemplo, o Ministério precisou emitir uma nota para atribuir a uma falha da Dataprev a emissão de laudos médicos com os dizeres "blá blá blá" no campo em que o perito apresenta as justificativas da capacidade laboral do segurado ou da necessidade de afastamento.

 

"Foi um campo de testes, que era o 'Lorem ipsum' [texto padrão em latim para preencher espaços de teste] e saiu 'blá blá blá', e a pessoa ficou ofendidíssima. Apontou uma conotação de desrespeito que só agravou o problema, e não era disso que se tratava", diz Assumpção.

 

"O arquivo não deveria ter sido acessado. Esse é o problema sistêmico. O 'blá blá blá' foi uma escolha infeliz, mas que não tem importância nenhuma."

 

Apesar disso, ele afirma que a Dataprev "não se exime nem se eximirá jamais" das suas responsabilidades. "O importante não é quem fica na vitrine, mesmo porque é natural e positivo que quem tenha responsabilidade sobre a política previdenciária seja a Previdência, seja o INSS. Isso é da natureza inclusive legal do processo. A Dataprev não se exime, nem se eximirá jamais das suas responsabilidades, não é disso que se trata. Mas é muito difícil falar de outra coisa que não os sistemas", afirma.

 

Outro embate recente entre governo e Dataprev tem se dado em torno das estatísticas da Previdência, o que inclui os dados da fila. Como mostrou a Folha, o Ministério da Previdência tem divulgado as informações com atraso —especialistas veem nisso um "apagão de dados"— e atribuiu o fato a "inconsistências" em dados enviados pela empresa.

 

Assumpção afirma que houve, de fato, inconsistências, mas negou que haja um apagão de dados. Segundo ele, a empresa remodelou algumas informações de acordo com demandas do INSS, mas esse novo formato não atendia às necessidades do Ministério.

 

"São ajustes de entrada de sistema. No meio desse tiroteio de fila e tudo mais, não é a área onde eu tenho mais gente concentrada resolvendo isso", afirma. "Poderíamos ter conduzido melhor, mas não é um problema de comunicação [entre os atores]. Avaliou-se mal o impacto das mudanças necessárias em um outro consumidor dos mesmos dados."

 

Por Folhapress

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