A escola familiar Dom Edilberto IV, localizada em Oeiras, ficou no ranking das dez melhores escolas do país que atendem alunos de nível socioeconômico baixo ou muito baixo. Entre as outras nove estão cinco da Bahia, duas do Maranhão e duas de Minas Gerais. Estas escolas fazem parte de um recorte de escolas privadas que atendem alunos vulneráveis socialmente. Os dados são do Instituto de Pesquisas e Estudos Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
O ministro da Educação, Renato Janine, surpreendeu-se com o desempenho destas escolas e disse que o Ministério da Educação estará mais atento a estas instituições para que possa “aprender com elas”.
As escolas familiares são geridas por associações de moradores e sindicatos rurais vinculados à comunidade. De acordo com o presidente do Inep, Chico Soares, as escolas são muito diferenciadas entre si e que isso torna possível a construção de muitos rankings. Ele afirma que um único ranking pode trazer uma visão distorcida da realidade destas escolas porque cada uma delas têm porte e estratégias de ensino diferentes.
As do Piauí, por exemplo, funcionam em regime de semi-internato: os estudantes passam quinze dias na escola e outros 15 dias em casa, com a família. Este regime não é algo aleatório, mas faz parte da estratégia de ensino adotada por estas escolas, baseada na pedagogia da alternância, em que o saber formal é aliado à manutenção dos vínculos do aluno com a comunidade à qual ele pertence.
Em julho deste ano, a Associação das Escolas Família Agrícola do Piauí (Aefapi) reuniu-se com representantes da Secretaria de Estado da Educação (Seduc) para discutir uma possível estadualização das escolas familiares do Piauí. O estado tem 17 escolas familiares, sendo uma delas de Turismo. A maioria fica no interior.
As escolas familiares têm pouca visibilidade no estado e sofrem tanto com a pouca quantidade de professores como com a precariedade de seu vínculo: eles são contratados como celetistas. Ou seja, têm os contratos renovados anualmente. Quando há demora nesse processo de renovação dos contratos, as aulas demoram a começar pela falta dos docentes.
Escola Familiar Agrícola Dom Edilberto IV
A escola família fica no assentamento Caldeirões, na região de Oeiras, e tem atualmente 137 alunos distribuídos em duas turmas de primeiro ano, uma de segundo, uma de terceiro e uma de quarto. É vinculada à Fundação Dom Edilberto Dinkelborg. Em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) são oferecidos cursos como o de produtor agropecuário, operador de máquinas, de produção de tijolo ecológico e de piscicultura.
Como outras escolas familiares do Piauí, a Dom Edilberto IV também adota a pedagogia da alternância. “Os quinze dias do mês que os estudantes passam com a família não são férias. Eles têm um plano de estudo em que devem aplicar o que aprenderam na escola à comunidade em que vivem”, explica Francisca Felícia da Silva, ex-coordenadora da escola e atual coordenadora da Fundação Dom Edilberto Dinkelborg.
A escola é mantida pela Fundação e pela associação de moradores da região. Além disso, a escola também recebe doações.
Felícia afirma que um dos desafios da Dom Edilberto IV são as dificuldades em relação ao quadro de professores. Antes os docentes tinham contratos com duração de dois anos, mas a partir da gestão de Wellington Dias, o contrato passou a ter de ser renovado a cada três meses. “Confiando no governo, o padre João de Deus pediu que os professores começassem as aulas neste ano mesmo sem a renovação do contrato e alguns ainda estão sem receber alguns meses”, disse Felícia. O padre João de Deus Carvalho Leal é o atual diretor da escola.
Também, pela curta duração contratual, os professores da escola tendem a procurar outros empregos que ofereçam mais estabilidade e acabam deixando a instituição.
Mesmo com todos esses problemas, a ex-coordenadora disse emocionada que é um “grande privilégio” a escola encontrar-se no ranking das 10 melhores escolas familiares do país.
Com informações da Agência Brasil