Todo encontro de Igreja é uma oportunidade única de acolhida, convivência, comunhão, partilha, aprendizado e conversão. Com 14º Intereclesial de Cebs não foi diferente. Foi isso o que experimentaram os 3,3 mil delegados e delegadas e as 1,8 mil famílias acolhedoras das mais de 58 paróquias da Arquidiocese de Londrina, de 23 a 27 de janeiro de 2018.
Muitos, ainda, se perguntam “O que é mesmo esse intereclesial?” Qual a sua necessidade e intenção?”
Um Intereclesial de CEBs é um grande encontro (Assembleia) que acontece de quatro em quatro anos, no Brasil, reunindo o Povo de Deus das comunidades eclesiais de base, da Igreja Católica, e, também, homens e mulheres, de outras denominações religiosas, credos, instituições e povos, do Brasil e do Mundo que, são comprometidos/as e apaixonados/as pelas causas populares – principalmente dos mais pobres – em busca do amor, da justiça, da solidariedade, da fraternidade e da profecia, sinais da construção do Reino de Deus. Este grande encontro acontece, sempre, em torno de uma preocupação, situação ou clamor que desafia a Igreja e a sociedade e chama a: uma revisão de vida, um novo olhar e uma prática libertadora, a partir do Evangelho. Neste ano, a temática central foi “os desafios do mundo urbano” e a iluminação bíblica vem do êxodo: “Eu vi e ouvi os clamores do meu povo e desci para libertá-lo” (Ex 3,7).
Jelson Oliveira, assessor das CEBs e professor de pós graduação em filosofia da PUCPR, assim se expressa:
“Atualmente somos, cerca de e 7 bilhões de habitantes no planeta terra; mais da metade vivendo em grandes centros urbanos. As cidades, criadas para serem lugar de proteção e paz, transformaram-se em espaço de medo e de fragmentação dos laços fraternos e comunitários. O crescimento desmedido e descontrolado, a falta de acesso aos serviços públicos, a violência, a poluição dos solos, rios e ares tornaram, a maior parte de nossas cidades, lugares muito pouco saudáveis para viver.
O estilo de vida urbano tem sido extremamente agressivo ao meio ambiente. Cresceu entre nós a ideia de que a cidade sintetiza os valores da modernidade, como progresso, novidade e liberdade. Este estilo de vida, porém, que inclui o individualismo e o consumo desmedido, muitas vezes irresponsável, acabou por gerar a maior crise ética da humanidade. Diante desta realidade, temos dois desafios: 1) construir uma experiência a partir dos valores da comunidade, da fraternidade, da solidariedade, do amor, do respeito, do bem viver e do cuidado ambiental e 2) amar as gerações do futuro como o nosso ‘próximo’, diante do qual precisamos mudar nossos comportamentos e hábitos, com o intuito de proteger e cuidar da vida e das condições de sobrevivência.”
O Intereclesial, iluminado por excelentes análises de conjuntura que, olha para a realidade brasileira e o que está por detrás dos fatos, dos acontecimentos, das instituições e práticas, trouxe grandes iluminações, mas, a que mais teve eco, pela profecia, foi a afirmação da professora Raquel Rolnik: “É momento de sair do Estado e retornar às Comunidades”. De fato, o povo, as instituições, as organizações e movimentos populares foram abafados e cooptados… já não se expressam mais, como antes; deixaram de lutar pelo pão e pela vida por causa das migalhas. Por isso, é preciso refazer as alianças e a luta pelo pão e pela vida, a partir de laços fraternos e comunitários, sinais do Reino de Deus.
A volta, para casa, dos delegados e delegadas do intereclesial, está vivida como renovação da esperança e da resistência, através do compromisso com a justiça e a paz. Ajuda muito, para isso, a exortação do Papa Francisco: “Não se apequenem, usem o exemplo e humildade de Maria, reforcem a missão dos três “T” (terra, trabalho e teto), unam as comunidades e povos, cuidem do planeta”.
Este encontro foi em Londrina. O próximo, daqui a quatro anos, mas, que começa a ser preparado, desde agora, será no Mato Grosso, na cidade de Rondonópolis.
Por: Pe. Edivaldo Pereira dos Santos