Ao escrever sobre o Dia 20 de Novembro tenho procurado salientar a importância de Zumbi dos Palmares para todos aqueles que foram seus contemporâneos, especialmente as vítimas do sistema escravocrata e todos aqueles que sofreram as consequências de um sistema, uma sociedade segregacionista.
A preocupação de Zumbi, em incluir todas as pessoas que estavam sofrendo naquele momento histórico, foi a preocupação de alguém que viveu o tempo todo pensando e agindo a partir dos critérios da inclusão. Sim, a inclusão, a felicidade, o bem estar, o salvaguardar a identidade de todos aqueles que estavam de algum modo sofrendo.
O seu modo de agir remete-nos ao modo de agir de alguns povos da República da África do Sul. Eles vivem a vida, olham para o seu semelhante com uma preocupação: a preocupação em viver o “ubuntu”. E, como traduzir esse verbete para a nossa língua? Ubuntu é a preocupação de alguém que é capaz de compreender que a lesão a um indivíduo pode prejudicar todos.
Zumbi foi marcado pela capacidade de perceber que o Quilombo dos Palmares era um espaço apenas para os negros (as) que não se adequaram ao sistema escravocrata e tiveram a possibilidade de viver, conviver no Quilombo bem como um lugar onde todas as pessoas que buscavam um modo de vida alternativo foram literalmente acolhidas.
A preocupação e a luta de Zumbi dos Palmares continuam para nós hoje, algo muito pertinente e real. Percebemos, de um certo tempo para cá, que inúmeros são os organismos que vão surgindo no nosso cotidiano para salvaguardar o direito de todos os grupos sociais, minorias, pessoas vulneráveis: delegacias especializadas, abertura no código de direito etc. Tudo isso não só para aplicar as penalidades da lei aos eventuais agressores, infratores mas para, de algum modo, lembrar-nos da importância de uma vida em sociedade onde todos sejam respeitados – independentemente de qualquer coisa.
Ao celebrar o 20 de Novembro lembremos também de todas as pessoas que deram a sua vida por causa da sua preocupação, da sua militância para que tantos irmãos e irmãs tivessem os seus direitos respeitados – foram muitas, foram tantas: irmãos e irmãs que tombaram na luta por um mundo marcado pelo ubuntu.
E que a leitura desse texto possa levar-nos a um debate sadio sobre a nossa atuação dentro do tecido social. Deixamos duas perguntas para um possível debate, conversa:
1.Você sente que no Brasil existe o ubuntu?
2.O que fazer para incorporarmos o ubuntu na nossa prática, no nosso cotidiano?
Pelo exercício do ubuntu!
Na luta por uma sociedade fraterna!
*Pe. Francisco Barbosa, Presbítero da Diocese de Oeiras, Administrador Paroquial da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, Socorro do Piauí-PI, Militante do Movimento Negro, E-mail: pebarbosa1965@bol.com.br, Novembro/ 2015.