Em sua homilia, Francisco comentou a primeira leitura, extraída do Livro do Profeta Isaías (Is 35,1-10), na qual o Senhor promete ao seu povo a consolação. “O Senhor veio para nos consolar”, afirmou o Papa, acrescentando que “muitas vezes a consolação do Senhor nos parece uma maravilha”.
“Mas não é fácil deixar-se consolar; é mais fácil consolar os outros do que deixar-se consolar. Porque, muitas vezes, nós ficamos presos ao negativo, ficamos presos à ferida do pecado dentro de nós e, muitas vezes, há a preferência por permanecer ali, sozinho, ou seja, no leito, como aquele do Evangelho, isolado, ali, e não levantar-se. “Levanta-te” é a palavra de Jesus, sempre: ‘Levanta-te”.
O problema é que no “negativo somos donos” , porque temos dentro a ferida do pecado, enquanto “no positivo somos mendicantes” e não gostamos de mendigar a consolação.
Francisco usou dois exemplos: quando se prefere “o rancor” e “cozinhamos os nossos sentimentos” no caldo do ressentimento, quando há um coração amargo”, quando o nosso tesouro é a nossa amargura. Ele citou o paralítico da piscina de Siloé: 38 anos com a sua amargura dizendo que quando as águas se mexiam ninguém o ajudava. “Para esses corações amargos, é mais belo o amargo do que o doce”, muitas pessoas preferem isso: “raiz amarga”, “que nos leva com a memória ao pecado original. E este é justamente um modo para não deixar-se consolar.
E depois a amargura “sempre nos leva a expressões de lamentação”: os homens que se lamentam diante de Deus ao invés de louvá-lo: lamentações como música que acompanha a vida.
O Papa cita o Profeta Jonas, “prêmio Nobel das lamentações”, que fugiu de Deus porque se queixava que o Senhor lhe faria algo, mas acabou afogado e engolido pelo peixe e, depois, voltou para a missão. E ao invés de alegrar-se pela conversão das pessoas, se lamentava porque Deus as salvava.
“Também nas lamentações há coisas contraditórias”, evidenciou o Pontífice, contando que conheceu um bom sacerdote que, porém, se lamentava de tudo: “tinha a qualidade de encontrar a mosca no leite” ou o pelo no ovo, como diríamos em português:
“Era um bom sacerdote, no confessionário diziam que era muito misericordioso, era idoso e os seus companheiros de presbitério imaginavam como seria a sua morte e sua chegada ao céu: ‘A primeira coisa que diria a São Pedro, ao invés de saudá-lo, seria: ‘Onde está o inferno?’, sempre o negativo. E São Pedro lhe mostraria o inferno. E depois…: ‘Mas quantos condenados existem? - ‘Somente um’- ‘Ah, que desastre a redenção…”. Sempre... isso acontece. E diante da amargura, do rancor, das lamentações, a palavra da Igreja de hoje é “coragem”, “coragem””.
Isaías convida à coragem, porque Deus ‘vem te salvar’, recorda. Em seguida, o Papa dirige seu pensamento ao Evangelho do dia: quando algumas pessoas vão ao teto porque havia muita gente e descem o paralítico para colocá-lo diante de Jesus. Não tinham pensado que ali estavam os escribas ou outros, queriam somente a cura daquele homem.
A mensagem da Liturgia de hoje – conclui o Papa – é o de se deixar consolar pelo Senhor.
“E não é fácil porque para deixar-se consolar pelo Senhor é preciso despojar-se de nossos egoísmos, daquelas coisas que são o próprio tesouro, como as amarguras, as reclamações, tantas coisas. Faria bem hoje se cada um de nós fizesse um exame de consciência: como está o meu coração? Tem amarguras? Alguma tristeza? Como vai a minha linguagem? É de louvor a Deus, de beleza, ou sempre de lamentações? E depois, pedir ao Senhor a graça da coragem - porque na coragem Ele vem nos consolar – e pedir-Lhe: Senhor: venha nos consolar”.
Por Rádio Váticano